Eu...

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Sou o que sou porque assim me ajudam a ser,a crescer,a melhorar...a cada sorriso,a cada abraço, a cada beijinho! Se sou o que sou, é porque vos tenho ao meu lado como grandes Anjos da Guarda...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Com muito amor...mano!!!


O nosso diálogo de ontem á noite fez-me recordar aquela dia negro...


27 Dezembro 2003 ...


São 8 da manhã…

O telefone de minha casa toca…atendo.
…Surge a voz trémula da minha mãe…
Tremula pergunto o que aconteceu?
Do outro lado surge a resposta que mais temo…”aconteceu alguma coisa ao L”
Porquê mãe? O que se passa?
Responde triste, sinto que tenta conter as lágrimas…”não te queria preocupar filha…mas já aqui está a T…ele não dormiu em casa…ele não atende o telemóvel.”
Desligo o telefone. Estou gelada…assustada.
Vou junto da minha princesa e explico que vou a casa da avó que o tio não está em casa.Peço.lhe que cuide do principe.

Aviso o marido e saio.
Entro no meu carro…as minhas mãos tremem, sinto frio,medo,dor,desespero…ansiedade.
Agarro no meu telemóvel e marco o número do L…toca…ele não atende.
Ligo o carro e arranco…sinto o desespera a apoderar-se de mim…completamente.
Sem saber porquê começo a chorar…não quero mas as lágrimas saltam dos meus olhos…continuo a insistir na ligação…mas nada.
Rezo alto…choro…rezo e peço ao meu Anjo que proteja o meu mano…protege o teu filho Pai…não deixes que vá embora…choro.
São vários os cenários que passam como que num filme…temo a vida do meu mano…
…Sinto vontade de falar com ele…começo a pedir-lhe que lute…”onde estiveres não vás. Luta L por favor…luta. Preciso tanto de ti, és o meu apoio, o meu ombro,a minha segurança, és o pai que me ajudou a crescer…és o meu segundo pai…não me abandones. Não me deixes também….luta…eu vou encontrar-te e ajudar-te…luta”
Chorei…falei tudo isto numa viagem que parecia não terminar…o carro não voava como eu precisava pra ir pra junto da minha mãe…
Entro em casa e a mãe já chora…olho pra T. e está assustada…sinto o seu desespero também…
Pergunto se já ligaram pra alguém e a mãe responde que ligou pró café ….ele esteve lá e saiu. Peço-lhes calma…calma essa que ninguém tinha…nem eu…mesmo assim tento manter o sangue frio e alguma lucidez.
Primeiro tento falar com os amigos dele…ligo a duas ou três pessoas…todos os viram…todos estiveram com ele…ele estava bem disposto…não estava com os copos…saiu de junto do pessoal por volta das 2 da manhã.
Lógico que aumenta o medo…
O M. já tinha andado ás voltas …poderia ter tido um acidente e ninguém ter visto o carro. O E. foi fazer o caminho ate O…

passou na Gnr…ligou a dizer que não tinha havido nenhum acidente…
Penso …se em O. não ouve vamos tentar ligar pra mais longe…liguei pra L, pensei que poderia ter ido alguma discoteca…não havia nenhuma ocorrência.
Liguei pra C…explico a situação…” A sra. Quem é?”…gelo e penso …morreu!
Pensamento estúpido…mando embora e volto á realidade…o agente pergunta”está a ouvir-me.volto a falar e digo-lhe que sou a irmã. Tenho que identificar-me e dar o número do telefone…tanta pergunta e nada de resposta.começo a ficar descontrolada…peço-lhe que me responda.
A minha mãe chora…a T. olha pra mim como que a tentar adivinhar o que se passa…nem eu sei mana.


Do outro lado o agente diz-me que ouve uma ocorrência durante a madrugada…foi encontrado um corpo…os bombeiros foram chamados e nós também…NÃO TEMOS IDENTIFICAÇÃO.
Não pode ser Pai…Não pode ser meu Deus…não podeis deixar que isto nos aconteça…não podeis deixar que isto lhe aconteça…
Tento manter a calma…pergunto como vou saber…ele diz-me que é melhor ligar para os bombeiros e tentar saber para onde foi levado o corpo. Entretanto temos um carro na rua e vai fazer a ronda pra tentar localizar o carro do seu irmão. Ligo-lhe assim que saiba…desliguei.
Ligo para os bombeiros de O. …confirmam que foram buscar um homem gravemente ferido….quase sem vida a C…foi uma chamada feita dum telemóvel…por volta das 4 da manhã…deixamos o corpo no Hosp de A.

Toca o telefone…era o mesmo agente…o carro está estacionado no parque .

Está fechado e tem um casaco de pele em cima do banco…Depois agradeço-lhe que passe no posto pra identificar-mos …desligou.
Faço um esforço grande para não chorar. Não falo na frente da minha mãe…só penso…ela não pode saber de nada!
Conto rápido e vagamente á T…foi chorar…entretanto chegou o C e o A.

Ligo para o hospital de A e confirmam que deu entrada um acidentado em estado muito grave…foi transferido para C. acompanhado por uma médica…o estado era grave.Deu-me o numero de contacto.
Ligo para o hospital de C…foi um atendimento frio, agressivo…ou talvez o meu medo e desespero das noticias que iria receber assim me fez sentir naquela momento.
De passagem de chamada de número em número confirmam que entrou um indivíduo do sexo masculino enviado por A. e que ficou para exames…senti um pequeno alivio…estava vivo…pelo menos assim parecia.
Pergunto como posso ter mais informação?
Peço para falar com alguém…uma enfermeira…peço que Deus me ajude…
Vem ao telefone uma enfermeira…arrogante que me diz que o sr já falou qualquer coisa…pediu para não contarem á mãe que está neste estado…pra dizer-mos que está em casa duma pessoa amiga…Este sr não deve estar bem…é estranho pedir isto…senti que ia rebentar a minha capacidade de aceitação a atitudes deste género…Estúpida esta fulana…pensei.
“O meu irmão está em condições de falar?”...”Posso tentar. Vou levar o telefone junto dele…”
Ouço-a a dizer….”Uma irmã sua que lhe quer falar…”
Respiro de alivio e agradeço ao meu Pai em primeiro, depois a Deus…está vivo!
…do outro lado mal percebia que alguém falava…chamei-o várias vezes….”L.? és tu? O que te aconteceu? com grande dificuldade consegui perceber…”dois gajos bateram-me…estou bem. Não contes nada á mãe…”
Meu Deus queria tanto gritar, chorar…ele não estava bem…mas estava vivo!
A enfermeira disse que ele iria ser transportado novamente para A.
Omito pormenores e digo simplesmente na frente da minha mãe….o L está bem. Foi fazer uns exames. Pediu para te dizer que está tudo bem.
Claro que não acredita…é mãe! Mãe sente…sabe…mesmo sem nada saber ou compreender.

Para quem não conheça o meu mano iria achar uma loucura tal como aquela enfermeira achou…mentir á mãe, não dizer que está no hospital…como eu te conheço…como eu te compreendo.

Eu faria igual…para a proteger.
Leva-mos a minha mãe para minha casa para ficar com os meus filhos.Argumenta-mos que iríamos buscar o L.
Ela ficou…triste…insistia constantemente” o meu filho…vocês estão a mentir"
Arranca-mos os quatro: eu , T, A. e o C.

Fomos ao parque estacionamento …já la estava o M com a A…Fui junto do carro…não havia qualquer sinal de ter sido mexido…estava longe do local onde havia sido a agressão. Dirigi-me até esse local…andava um senhor a lavar…olhou pra mim e pra T. e disse”começou tudo aqui em cima. Havia uma mancha grande de sangue, depois devem ter atirado com ele pelos degraus…foi levado pra dentro da casa de banho e lá é que o trataram de certeza…pelo sangue que havia não sei se ficou vivo. Esteve aí a policia…encontraram uns óculos partidos e mais nada.
Quem são vocês?”…As lágrimas corriam pelos nossos rostos…”irmãs!”
Saímos dali …o passo seguinte era ir para A…
Ao chegar-mos ao hospital a espera por notícias foi dolorosa e demorada.
Finalmente conseguimos saber que ele já tinha chegado…disseram-nos para pedir ao segurança pra entrar e dar só uma palavra ao senhor…

Dirigimo-nos ao segurança…era um homem de cor…um bom ser humano.Disse-nos para entrar-mos mas não podíamos demorar, pois naquele espaço não podem estar visitas ou acompanhantes…concorda-mos.
Entra-mos…haviam macas com pessoas por todo o lado…olhei rapidamente á volta e não encontrei o meu mano…caminhei mais um pouco…nada… “Tiiiiinnnaaa, tooouuu aaaquuuiii!” uma voz num tom baixinho, rouco com dor…
Quando me virei…havia um braço esticado…uma mão suja de sangue a tremer…era o L.
Toquei no braço da T. ela olha e começamos as duas a chorar…não conseguimos aguentar. Segurei a mão dele na minha. Ele tremia.choravamos e veio uma senhora junto de nós e disse” não chorem….é pior pra ele. Ele não está muito bem. Está perturbado. Fiquem com ele um bocadinho mas não podem chorar”.
Agradecemos...tentamos controlar as lágrimas…
Ainda hoje tenho bem nítida a imagem dele…era um monstro. A cara, dele estava irreconhecível…ao ponto de não o ter-mos reconhecido! A cabeça era o dobro do tamanho…parecia uma abóbora grande… as mãos todas cortadas e sujas de terra e sangue…as unhas apesar de curtas estão pretas da luta no chão…horrível.
Só consegui perguntar-lhe…”o que fizeram contigo?”…as lágrimas voltaram a cair.
Com grande dificuldade respondeu …”eram dois ucranianos, queriam dinheiro…eu não tinha. Vinha de N.S…bateram-me”
Caíram umas lágrimas no canto do teu olho…passei a minha mão num cantinho do teu rosto e pedi pra teres calma…”nós estamos aqui contigo , temos que ir lá pra fora mas prometo que já volto.”
Vi em ti, medo, tristeza, dor, mágoa, revolta, solidão…pânico.
Saímos a chorar as duas. Na rua juntamo-nos aos nossos maridos e contamos como estavas…a única pergunta de todos nós: PORQUÊ?


Passou algum tempo e consegui entrar portas travessas pra sala onde estavas…já te tinham mudado de lugar.
Entrei e vi os teus olhitos a seguirem os meus passos…dirigi-me a ti…seguraste a minha mão…Chocou-me tanto olhar pró teu estado…
Num gesto de fuga agarraste a minha mão e disseste….”Pronto já tou bom, vamos embora”…tentaste levantar a cabeça…claro caíste logo pró lado.
Baixei-me ao teu lado e pedi pra teres calma…estou aqui e não te deixo…prometo.nao te deixo ok?
Fechaste os olhos como resposta…senti que ficaste mais calmo. Continuavas a segurar a minha mão, abrias os olhos de vez em quando…penso que era por medo…
Veio uma enfermeira e perguntou se ninguém te tinha limpo aquela sangue todo…abanaste a cabeça como resposta…disse então eu vou pô-lo mais bonito… foi buscar os acessórios e começou a limpar…era tanto sangue…tanto golpe…
Sentis as pernas a fraquejar…o chão e mexer…um zumbido nos ouvidos.
Olhei pra enfermeira e disse ia apanhar ar… olhaste pra mim e disseste-me:”vais embora? Vais deixar-me aqui?”
Disse que tinha de ir falar com o pessoal na rua. Volto já.
Respirei fundo. Chorei o que pude…Vieram ter comigo os quatro,entretanto chegara o M…expliquei o que se estava a passar lá dentro e voltei a entrar.
Com o rosto e as mãos um pouco mais limpas …deu pra ver o verdadeiro estado do teu rosto, pontos por todos lado…cortes ou golpes por todo o rosto, á volta dos olhos havia uma bolsas de sangue negro…escoria como se fossem lágrimas tal e qual, e nunca consegui saber se naquele momento tu choravas e junto as lágrimas ia sangue ou se era como a enfermeira me explicou…o sangue acumulado naquela zona vai saindo aos poucos…fazia confusão porque saia mesmo do canto interno dos olhos…sangue…deram-me uma gaze pra ir limpando.
Entretanto veio um médico que disse não podias ficar naquele Hospital visto não pertencer á área de residência…iam mandar-te pra casa.
Olhei pró médico e pergunto vai mandar o meu irmão pra casa? Neste estado?”
Respondeu que sim. Sorri-lhe e disse-lhe “o meu irmão não está bem. Não pode fazer isso. Não assumo qualquer responsabilidade…ele nem se mantém sentado sequer!”
Confirmou que não podia fazer mais nada. Se ele se sentir pior leva-o ao hospital da sua área. Foi embora. Disse ao meu mano que ia á rua…volto já!
Liguei pra D. , uma enfermeira nossa conhecida e que trabalha no hospital …ela e o marido. Atendeu, expliquei o que se estava a passar. A D foi excepcional e disse que o P estava de serviço na urgência externa. Vou avisa-lo e ele vai já ter contigo…passados 5 minutos chegou o P.que eu conhecia de vista mas ele nem sabia quem eu era…aproximei-me dele e identifiquei-me.Pediu pro seguir e lhe dizer onde estava o L… fomos até ele. Vi que o P. ficou incomodado com o quadro que ali encontrou…olhou pra mim e confirmou o que eu já sabia…este senhor não está em condições de tomarem conta dele em casa….vou falar com o medico e peço-lhe que o transfira para N.T., é a melhor solução.
Graças a Deus e a seres humanos como o enf.P. , que me vieram comunicar que já tinha sido chamada uma ambulância para fazer a transferência de hospital.


O enf.P veio despedir-se de nós…agradeci-lhe por tudo.
Fui á rua comunicar a situação, quando entro já estava um bombeiro ao lado da cama pra mudar o L…vi-o assustado.

Ele ficava assustado quando alguém se aproximava dele.Toquei-lhe no rosto…”tou aqui”.
O bombeiro explicou-me que ia-mos para N.T, poderia ir ao lado dela se conseguisse…

claro que vou. Claro que consigo…. (sabe Deus e tu Pai como estava em pânico).
Quando a maca abriu as portas e eles te viram…dirigiram-se todos até ti…olhei-os…era a primeira vez que te viam…deram-te forças!Disfarcaram e começaram a chorar…claro.
Disse que ia contigo na ambulância…entrei e sentei-me ao teu lado.
Durante todo o caminho não largaste a minha mão…impressionante…tanto medo.
Fechavas os olhos e segundos depois abria-los e apertavas a minha mão.
Um dos momentos que me marcou e doeu muito foi quando tentavas falar qualquer coisa…não ouvia com o barulho, aproximei o meu rosto do teu e perguntei o que querias…AS LAGRIMAS COMECARAM A CAIR PELO TEU ROSTO E DISSESTE”…BATERAM-ME TANTO TINA.DERAM.-ME TANTOS PONTAPÉS.PEDI TANTO PRA NÃO ME BATEREM MAIS…DOEU TANTO”
Chorei contigo, chorei pelo ódio do que te tinham feito. Chorei por medo, chorei por pensar na mãe, chorei por não saber como dizer e mostrar o teu estado á mãe,
Chorei por pena de ti…choramos por ti. Muitos choraram por ti mano.
Toda a gente ficava chocada ao olhar o teu estado…mais chocados quando sabiam que tinha sido uma agressão.
Quando chegamos foste levado para observação…passadas umas horas confirmaram que ficavas internado … ficamos tristes mas aliviados por sabermos que ficavas melhor ali…era pra teu bem.
Deixaram-me despedir de ti Prometi que no outro dia lá estava pra te ver…estaríamos todos.
Os dias seguintes foram de caminhadas pró hospital…visitas.
O nosso medo, o maior medo era a mãe…como ela ficaria ao ver-te…triste, chorosa mas forte reagiu á altura. Foi uma grande mulher mais uma vez.
Já mais calmo e a conseguir falar melhor explicas que ….”saí do P. Não tinha sono e senti vontade N.S. Estacionei o carro no parque e deixei tudo lá…casaco, telemóvel e o dinheiro. Levei umas moedas no bolso um isqueiro e o tabaco. Estive no S e voltei. Vinha a fumar um cigarro, ao dar a volta junto dos arbustos da livraria aparecem dois gajos altos. Param ao pé de mim e pedem um cigarro…eu dei, depois pedem-me dinheiro que precisam de dinheiro…disse que não tinha…nem esperaram mais nada, um deles deu-me logo um soco e eu caí logo. Quando me tentava levantar deram-me um pontapé…e vim aos trambolhões até junto das casas de banho. Cá em cima voltaram a pedir dinheiro…disse não tinha…jurei, então aí não pararam de me

bater….doía tanto eu só punha as mãos na cara e na cabeça…depois atiraram-me pelas escadas abaixo…ainda me vejo a bater cá no fundo.levaram-me aos pontapés pra dentro das casas de banho…pensei que ia morrer tina…bateram-me tanto. Senti que ia morrer e pedi a N.Sra. pra me ajudar…nem sei como mas lembrei-me de fazer que tinha desmaiado…deixei de resistir…penso que pensaram que estava morto e devem ter ido embora…depois só me lembro de ver muitos flashes…luzes, disseram que estava numa ambulância. Acordei em C….”


Começa outra etapa…Policia.
Na segunda-feira fui ao posto como pedido. Entregaram-me os óculos. Não encontraram as chaves.
Roubaram as botas…mais valores também não tinhas.
Foram várias as perguntas que me fizeram…se havia inimigos…desconfiam alguém…
Desconfia-mos de tudo e de todos nestes momentos. Dúvidas surgem.
Única pergunta possível: porquê? PORQUÊ TU?
O drama na ida ao posto foram as fotografias que me mostraram…antes perguntaram se tinha sangue frio…respondo que sim. Explicaram que o que ia ver era muito forte…confirmei que sim com a cabeça…não deveria ter visto…não deveriam mostrar.
Eram a prova de algo demasiado animalesco…só animais podem ou conseguem algo daquela tipo…
A luta deve ter sido tão grande qua haviam fotos de poças de sangue na rua junto do cimo das escadas na terra. Fotos dos degraus com sangue. Fotos da entrada das casas de banho com sangue…explicaram-me que o corpo foi atirado daqui pra ali etc etc…naturalmente.
Depois levaram-no pra dentro das casa de banho pra não haver testemunhas, pra poderem”trabalhar” á vontade…
Voltamos ás fotos…no interior duma casa de banho.
Havia marcas das mãos numa sanita…explicação técnica deles agentes: o seu irmão deve ter resistido…agarrou-se á sanita pra se levantar. Outra foto e marcas de mãos a escorregar pela parede …marcas de sangue…os dedos. Outra foto uma mancha de sangue na parede….sabe o que é isto? Acenei que não com cabeça…agarram nele e bateram com a cabeça na parede…nota-se as manchas do cabelo…aqui, ali, acolá…naturalmente.
Depois devem do ter tirado pra fora ou ele arrastou-se porque á marcas de sangue no corredor…mãos e dedos marcados nas paredes…foi arrastado ou arrastou-se …naturalmente.
Sabe que quando os bombeiros chegaram o seu irmão tinha uma piaçá na mão e batia com ele nas paredes e no chão…parecia que se estava a defender.
Digo-lhe mais…eu fui um dos agentes que foi até ao local com os bombeiros…achei que ele estava cego… não falava. Não o reconheci e eu conheço o seu irmão de trabalhar aqui á muitos anos.
Nunca pensei ver algo tão horrível de perto…ali nas minhas mãos…vivi a dor…senti a dor de que me falou.
Senti tudo. Odiei o mundo…odiei tudo e todos.
ANIMAIS…ANIMAIS
Perante tanta violência imprimida naquelas fotos, perante o estado em que o meu irmão ficou eu pergunto…algo, alguma situação, momento ou atitude justifica isto?

Como pode alguém fazer a um ser como tu?!


Seguiram-se dias muitos difíceis…de volta a casa …
Consegui em todos os momentos ir buscar forças que nem as sabia em mim…

foi difícil sim tratar das feridas…limpar, desinfectar, fazer barba, ajudar a ir ao banho, ajudar a vestir, passar pomadas, fazer os pensos…foi difícil…acredito que me ajudou a crescer como ser humano.
Verifiquei uma mudança muito, muito grande em ti…sinto falta do meu outro L…divertido, risonho, alegre, extrovertido, brincalhão…feliz.
Passamos a conviver com um L triste, magoado, solitário,
revoltado,ansioso,assustado…infeliz.
Recusas falar do assunto. Respeito e não falo.
Foram meses de dor, agonia, sofrimento e ansiedade.
Felizmente recuperaste…foste forte.
Acredito que com o tempo, foste aprendendo a viver com essas lembranças…olho pra ti e ainda noto algumas marcas no teu rosto…sei onde estão… continuas sempre bonito.
Mas ao olhar para ti sinto que interiormente ainda não estás curado…prometo que estarei sempre aqui…sempre aqui para te apoiar e cuidar se necessário.
Obrigado por esse ser humano lindo que és…com as tuas qualidades e com os teus defeitos…quem os não tem?!


Passados estes anos...nunca mais falamos sobre o sucedido.

Muitas foram as perguntas feitas em silencio...por mim, e por ti também com toda a certeza.

Durante muito,muito tempo o meu medo era tão grande quando saias á noite...

Hoje já me sinto mais calma...


Deus ...cuidará de quem te fez isto...como tu dizias.


Quando ontem me falaste pela primeira vez da suspeita que tinhas em relação a quem te fez ou mandou fazer isto...fiquei aliviada por saber que já não se encontra entre os vivos...

Que tivesse sido ou não...pouco interessa agora.Se foi ... já pagou!

Deus existe mano!!!

E as pessoas de mau caracter terão que pagar pelos seus actos...


És um ser humano especial...e por isso, muito mais custou a todos os que te amam e admiram.


Com todo o meu amor por ti…todo o meu respeito por ti mano!!!

Ah…só me falta dizer que considero a tua sobrevivência um milagre da tua santa devota…


Com amor


Eu, Tina

7 comentários:

Anónimo disse...

Meu Deus Tina para ler o teu blog ás vezes precisamos de respirar fundo.Lamento o que aconteceu ao teu mano,mas pra uma grande mana
só um grande mano.Beijinhos querida.

Patyxa disse...

:*

Elisabete disse...

Tina, é muito difícil ler tudo isto sem derramar uma lágrima.
Realmente acontecem coisa nesta vida para as quais nunca encontramos explicação.
Valeu pela tua força e pela força do teu irmão.
Se estivessemos perto dar-te-ia um abraço que é o gesto que me parece o mais reconfortante.
Que Deus vos dê muita força para seguirem em frente e que vos ilumine o caminho.

Isabel de Miranda disse...

Sem palavras:(beijinhos com muito carinho

fátima.carrapa disse...

..."se me falares da tua saudade, entenderei,
mas se escreveres sobre ela,
eu a sentirei contigo.

Se a tristeza vier e te consumir e me contares,eu saberei;
mas se a descreveres no papel,
o seu peso será menor."
... ...
"Quem escreve constrói um castelo,
e quem lê passa a habitá-lo."
Autor desconhecido

"Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente."
William Shakespeare

Tina, são estes abanões da Vida que nos fazem cair ou crescer.
Felizmente que conseguiste sobreviver à dor e crescer...Evita olhar para trás...vai em frente ! O mais importante agora está ao teu lado...Bjs. Bombom

Anónimo disse...

Olá! Vim conhecer o teu blog e posso dizer que comecei em grande, já me cairam umas quantas lágrimas... :S Querida, a vida é mesmo assim, injusta para muito boa gente, mas tal como tu eu acredito que cá se fazem cá se pagam! E acredito que há-de ser feita justiça em relação ao que vos aconteceu! Força linda e continua a ser a excelente irmã que és! :)
Beijinhos carinhosos!

Tina disse...

Obrigado amigas... por vezes somos obrigados a crescer muito rapidamente :(
bjinhos

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Outros Sabores

Outros Sabores...

Obrigado por vir ao meu encontro...

Obrigado por vir ao meu encontro...
"Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre."

Cecília Meireles